terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Adeus a Lynn Margulis.

O mundo perdeu aquela que inspirou várias gerações de biólogos e certamente foi a bióloga mais importante da atualidade. Lynn Margulis faleceu no final de novembro, aos 73 anos, após ter sofrido um acidente vascular cerebral dias antes.

Doutora em genética, nos últimos 23 anos lecionou na Universidade de Massachussets onde dedicou sua vida a pesquisa evolutiva e a divulgação científica, fazendo ambos com grande paixão. Seus estudos são reconhecidos como alguns dos mais brilhantes da sua geração. Publicou inúmeros artigos científicos e mais de dez livros (em inglês). Dentre as suas obras que foram publicadas no Brasil estão: Os Cinco reinos (livro de referência para estudantes de Ciências Biológicas), O planeta simbiótico,  O que é vida?, O que é sexo? e Microcosmos.

A cientista ficou conhecida por sua teoria da simbiogênese, proposta nos anos 60, que desafiou as teorias neodarwinistas com a idéia de que as a interação entre os organismos (endossimbiose) poderia promover variações nos organismos passíveis de serem passadas às gerações posteriores e não somente as mutações como os neodarwinistas afirmavam. Margulis propôs que as células eucariotas, que constituem os organismos multicelulares, evoluíram a partir de relações de simbiose entre bactérias, enfatizando a importância dos microorganismos.

Sua teoria que inicialmente foi muito criticada pela comunidade científica, hoje é amplamente aceita e dela deriva a moderna taxonomia de protistas (ou protoctistas, como ela preferia) e outros organismos.  Segundo a teoria da endossimbiose, há milhares de anos, organismos eucariontes primitivos se associaram a procariontes de vida livre que passaram a viver de forma simbiótica. Esse organismo procarioto deu origem às organelas citoplasmáticas dos eucariotos como as mitocôndrias e os cloroplastos. As mitocôndrias seriam o resultado da endocitose de procariontes aeróbios e os cloroplastos de procariontes fotossintetizantes (possivelmente cianobactérias).

Sua teoria criativa e brilhante explica uma lacuna deixada pelo neodarwinismo: o sucesso evolutivo através do aumento da complexidade celular, que ela atribuiu à simbiose entre organismos primitivos de diferentes espécies. 

Dentre os argumentos que confirmam sua teoria estão as constatações de que (segundo Wikipedia, com modificações pessoais): as mitocôndrias e os cloroplastos possuem DNA semelhante ao das bactérias e diferente do que existe no  núcleo  celular; ambos possuem duas ou mais membranas e a mais interna tem diferenças na composição em relação às outras membranas da célula e semelhanças com a dos procariontes; análises bioquímicas dos cloroplastos e seus pigmentos apontam muitas semelhanças com as cianobactérias; análises filogenéticas realizadas com bactérias, cloroplastos e genomas eucarióticos revelaram maior similaridade dos cloroplastos com as cianobactérias; análises de sequências de DNA de algumas espécies sugere que o núcleo eucariótico contém genes que aparentemente tiveram origem no cloroplasto; o pequeno genoma das mitocôndrias e dos cloroplastos pode ter sido uma conseqüência do aumento da dependência destas  organelas após a simbiose se tornar obrigatória, ou melhor, passar a ser um organismo novo; vários grupos de protistas possuem cloroplastos, embora os seus portadores serem, em geral, mais estreitamente aparentados com formas que não os possuem, o que sugere que, se os cloroplastos tiveram origem em células endosimbiontes, esse processo teve lugar múltiplas vezes, o que é muitas vezes chamado “endosimbiose secundária” como ocorre, por exemplo, em Dinophyta, Heterocontophyta. 

Sem sombra de dúvida, uma grande perda para a ciência.

Abaixo alguns links externos:

A página do laboratório dela na Universidade  Massachussets contém com várias fotos e informações sobre seu trabalhos, alguns estão disponíveis para download.

Uma resumidíssima biografia. Mesmo acessada em 13 de dezembro, ainda não constava o seu falecimento!!!).

Um pouco mais sobre Margulis no excelente texto de Felipe A. P. L. Costa para o Observatório da Imprensa.

E por fim, assista o vídeo (em espanhol) no qual ela fala, de forma muito simples, sobre a teoria da endossimbiose e sobre VIDA. 




Um comentário:

  1. Marcos Campos Fernandes24 de abril de 2013 às 10:37

    Só hoje fazendo pesquisas para escrever um artigo fiquei sabendo do seu falecimento. Sou cirurgião-dentista e pela sua influência acabei também me formando em Biologia.
    L. Margulis: Obrigado por você ter existido e mande um abraço para Carl Sagan.

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